sábado, 1 de março de 2008

Sebastião

Ainda me lembro daquele dia, tinha apenas uns centímetros de cumprimento e não se cansava de girar sobre si mesmo. Deram-mo no dia em que completei os meus dez anos de idade. Lá vinha ele no aquário minúsculo e redondo, lá vinha ele, o meu peixinho vermelho.


Oh Sebastião! Maldito o dia em que tive de ir buscar o pão, naquela manhã de nevoeiro... Aposto que nunca me teria lembrado de tal nome!


È engraçado! Foram precisos quatro anos para eu prestar atenção, foi preciso estar sozinha naquele dia para ver “o outro lado”.



Estava ali o Sebastião, agora já maior, com um aquário enorme, rectangular, sozinho.
Pensei:


“Nunca deve ter saído do aquário!” Lógico!

“O rio? Ele não conhece o rio!” Claro que não!

“E o mar? Aquela imensidão bela!”


Comecei a sentir pena dele! Do meu Sebastião, que se divertia consigo mesmo, limitado por quatro míseras paredes de vidro, com apenas umas meias dúzias de litros de água, movimentava-se graciosamente, completamente alheio ao que estava por de trás das suas paredes transparentes, à sua ignorância, ao desconhecido.
Não sabia que havia “algo mais”, ou se sabia, parecia não se importar!


Pena dele? Era eu que estava ali, sentada numa mesa a sentir pena de um animal irracional. EU! Igual a milhares, igual a milhões, igual a toda a gente!


Temos o que nos é preciso, mas sabemos que existe algo mais! E falta sempre algo!

Hoje conseguimos o que achávamos que era preciso ontem, amanhã isso já não chega e há que ter mais, e falta sempre algo!


Os pobres querem ser ricos, os ricos querem ser ainda mais ricos, abundam de riqueza, mas isso só não chega! Há que ter mais! Mas vai sempre faltar algo!


Insatisfação.



Necessidade de ter, nem que seja só para dizer que se tem.


Pena dele? De um peixinho vermelho, que se chama Sebastião por grande ironia do destino (e minha!), que gira sobre si mesmo, que se diverte consigo próprio e que vive feliz com toda a sua irracionalidade?


Pena dele?

De mim?

Do mundo?


Não sei!



Rita Oliveira
29-02-2008

2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Opá agora ate me fizeste ter eu pena do peixinho! :( coitadinho! Mas é bem! muito giro o texto..é o que eu digo tu cada vez escreves melhor!:D beijinho*

1 de março de 2008 às 13:03  
Anonymous Anónimo disse...

Essa tua prima tem razão, escreves cada vez melhor...
sabes...
o sobrevivente é giro.

pode não conhecer metade do mundo, mas alguém que lhe da comer (quer dizer bem :D) e ao menos não é como certas pessoas que pensam que os peixes dormem de barriga para cima :D esta foi forte acho que sabes quem é..
uma pista: por cromice não sou eu (milagre!)

tenho saudades das minhas tartarugas :(

1 de março de 2008 às 13:58  

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