sábado, 16 de maio de 2009

Incerteza


Assisto atentamente à sua chegada e sinto vagarosamente o sangue a correr-me nas veias.
Olha para mim, como quem não me vê e esconde-se algures entre a alma e o coração.
Passa de relance…
Depois, acalma… vem falar-me baixinho ao ouvido, a medo, toca-me como se não fosse propositado e aí, sim, é aí que flechas de fogo me queimam a pele todas as palavras são trocadas por silencio e sorrisos momentâneos, por olhares meigos e ternos, mas incertos, mas distantes… e de repente sou minúscula, alguém me aperta contra o peito por causa da ferida na alma que tanto dói.
Olho pelo cantinho do olho e lá está outra vez, pronto para olhar através de mim, como se eu não soubesse o que traz escondido no peito e no olhar flamejante, como se eu não soubesse que está lá para assistir atentamente à minha chegada, que sente vagarosamente o sangue a correr-lhe nas veias. Pensa que o tempo criou o vazio, a distância e olha para trás para que o seu olhar se cruze com o meu em cada passo em frente que dá, mas insiste em fingir que não provoca em mim a insatisfação típica de quem não sabe o que quer. Finge que não estou nem nunca estive…
Depois vem a fraqueza…
As gargalhadas espalham-se pela escuridão dos dias, despimo-nos de nós, e num puro momento de delírio, abro os braços a quem me conhece, a quem conhece cada pedacinho de mim, a quem conhece cada contraste da minha pele, dos meus pensamentos, a quem sabe sorrir e chorar, a quem esporadicamente se deixa levar por sentimentos espontâneos, a quem torna o momento seguinte imprevisível… mas no fim…
… assistimos ao momento da chegada, como se nenhum de nós soubesse o que trazemos escondido no peito, escondido do Mundo, olhamo-nos como se não nos víssemos e pensamos que o tempo criou o vazio, a distância, em cada passo que damos, olhamos para trás, cruzamos o olhar e fingimos que não existe horizonte que nos corte a respiração e nos apague a incerteza de quem não sabe o que quer… que abale o medo do desconhecido ou…
...que lembre que o cominho faz-se caminhando…


Rita Oliveira
16/05/2009
Obrigada Carla x)

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