terça-feira, 10 de novembro de 2009

Despertar


Não é preciso dizer, ou perguntar. Sei que são poucos aqueles que nunca acordaram antes de o sol nascer, sei que são poucos aqueles que foram acordados por um desassossego, ou simplesmente porque assim calhou que fosse.

Ó sim, quantos não foram aqueles que acordaram antes de o amanhecer, que abriram os olhos depois de imagens tão cheias de felicidade tão perfeita, tão tocável e atingível que tornam ingénuos todos aqueles que não sabem que tal plenitude só se alcança de olhos fechados e que se vai embora com a noite?

Outros sabem que vale mais ser-se ingénuo, do que ter o peso de um sono temível, onde os fantasmas são corpóreos, de imagens feitas de sombras. De sombras mais escuras que a própria realidade.

E quantos não são os que acordam antes de o amanhecer, despertando de um sono tão transparente, tão puro e simples, tão cheio de nada, tão sem sensações, que nos faz sentir que o sono foi um simples intervalo e o acordar uma retoma?… Bem ditas sejam essas noites!


Ainda de olhos fechados, sentimos os sentidos a acordar mexemos o corpo, devagar, como se nunca o tivessemos feito antes, semicerramos os olhos inicialmente, como se as pálpebras nos pesassem mais do que a vida e deixamo-nos envolver pela escuridão do quarto. Não pensamos, mas sabemos que tudo permanece igual, os livros continuam no sítio onde os pusemos, o tiquetaque do relógio tem o mesmo ritmo, em cima da mesa, está a carta que receámos ler, ou que já lemos vezes demais...

O sol vai entrando pela janela, trespassa as cortinas sem reservas, sem pudor, sem piedade e vem levantar a escuridão, como quem desprende um véu, em cada canto do quarto, levando também toda a esperança de que cada objecto tivesse uma anatomia diferente, que as paredes do quarto tivessem outra cor.

Lembramo-nos então que retomámos, hoje, a vida, onde ontem tínhamos acabado. Independentemente do sonho.

Sei que são poucos os que nunca despertaram antes de o amanhecer e desejaram ter acordado noutra Pele!



Rita Oliveira

10/11/09

8 Comentários:

Anonymous Vané :b disse...

Tens tanto jeito para escrever miúda :O
Parabéns *.*

10 de novembro de 2009 às 18:51  
Blogger Unknown disse...

Muitas pessoas por acaso necessitam por vezes de despertar para a vida, o mesmo se passou cmg e tu sabes bem lol xD.
Mas pior anda para andar, sobre ela novamente... -.-
Embora tenha tido a tua ajuda deve haver muita gente perdida, nos fantasmas do passado. Eu ja deixei de ter medo dos meus fantasmas e assim eu vivo a minha vida, um dia de cada vês =)

Ps. Texto lindo lol =P

10 de novembro de 2009 às 19:23  
Blogger  disse...

"Sei que são poucos os que nunca despertaram antes de o amanhecer e desejaram ter acordado noutra Pele!"
gostei mesmo :)

22 de novembro de 2009 às 18:52  
Blogger MสЯ†iиhส ♥ disse...

Sempre acreditei que seria mau existirem pessoas como tu. Sempre pensei que quanto mais gente existisse assim, como tu, tudo era banal.
Hoje acredito que a verdade é essa: é bom existirem poucas pessoas como tu.
Por muitos erros que todos cometamos, ou dizemos, ou fazemos, ou agimos… bem não importa, a questão é que todos errados, todos fraquejamos… e daí se vê os nossos amigos.
Temos 10 dedos, nas duas mãos. Teremos 10 amigos?
Daqueles verdadeiros? Não!
Existem poucas pessoas como tu, mas tendo-te a ti comigo tudo é mais fácil.
Rita, a vida é uma encruzilhada (pegando nas sábias palavras do professor Martinho, que ao falar das cidades diz grandes coisas sobre o que é a vida, do que são as pessoas sem ou com intenção de o ser).
Mais que nunca oiço e leio coisas, conversas, sermões, conversas com grandes conteúdos e argumentos, inspiradoras e fantasticas ou vazias… mas não imaginas o que cada palavra me diz “respeito”
Não sou a melhor pessoa para falar do que é a vida – sempre fui uma criança mimada e infantil que sempre teve tudo, que nunca lutou por nada, que quer chamar a atenção fazendo as mais diversas birras que uma cachopa mimada e infatil, que sempre teve tudo, faz.
Que tudo? O que os outros dizem que é tudo!
O meu “tudo” é diferente do tudo das outras pessoas. Por mais tudo que eu tenha, sinto que não tenho o meu tudo.
Aquele tudo que tu também procuras e que tu sabes qual é… (sim, sempre adorei parecer inteligente, e dizer coisas sabias – no fundo, não sei nada e só sei isso).
Princesa, o sol as vezes esconde-se, mas voltará sempre a brilhar.
Nunca vi amanhecer um dia, sou completamente sincera com isto. Mas deve ser das coisas mais fantásticas de acontecer. Nas duas partes a que me refiro: do sol e da vida.
Desejo acordar noutra pele, não sei quem sou, não sei o que faço, não sei nada… talvez as perguntas nunca tenham respostas… perdi-me e vou-me encontrando onde cada bocadinho do meu coração está.
Tu.
Tu, e eu, e os 14 anos em que és praticamente das minhas melhores amigas. Ritinha, és uma grande amiga. Obrigado por seres assim.
Obrigado por tudo. Desculpa por tudo.
Adoro-te.

12 de dezembro de 2009 às 16:04  
Anonymous Anónimo disse...

É a insatisfação característica da raça humana e o quão complicado é o "espacinho que existe entre as nossas orelhas", que me faz sentir tão perdida como tu.


Adoro-te a ti e aos 14 anos que passaram x)

E se nunca viste o amanhecer é porque ficas a hibernar até à uma da tarde sem te aperceberes que estás a perder luz solar ahahah


Rita Oliveira^^

12 de dezembro de 2009 às 20:40  
Blogger MสЯ†iиhส ♥ disse...

-.- tens razão.
mas vou guardar esse momento para o fazer contigo.
hoje acordei as 10 xD

12 de dezembro de 2009 às 21:26  
Anonymous Anónimo disse...

Relativamente ao que escreveste acerca de José Saramago, estou de acordo contigo com quase tudo. No que toca ao nosso povo gaiteiro,também, se bem que existe felizmente uma parte que assim não o é. E na minha opinião, se for possível ao José Saramago, genuino como sempre, visualizar o seu funeral, o que penso ser pouco provável, estará com dores na barriga de tanto rir.
Continua a desenvolver a tua capacidade de análise e espirito critico. Gostei.

20 de junho de 2010 às 22:27  
Blogger Ricardo disse...

excelente, tens imensas capacidades para escrever
beijo ricardo

21 de junho de 2010 às 14:30  

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