domingo, 20 de junho de 2010

Desabafos



Não quero parecer insensível, muito menos áspera nas palavras, especialmente por, paralelamente ao tema principal, ir tocar em certos pontos dignos de respeito de alguém que se preze de ser pessoa.
Mas agora formalidades à parte e sinceridade em mãos!
É do conhecimento de todos que, dia 18 de Junho, Portugal sofreu uma grande perda, e quando digo isto não falo apenas do facto de termos de subtrair o número um ao número total de habitantes do Pais! Não! Portugal, no dia 18 de Junho de 2010 sofreu uma grande perda intelectual e cultural.
Direi isto de uma forma mais simples: José Saramago faleceu. José Saramago, homem de ideias individuais e próprias, com aquilo a que se chama a verdadeira coragem de pensar sem limites, faleceu dia 18 de Junho de 2010 e deixou, em páginas, em palavras, em momentos, que hão-de estar bem guardados dentro de quem leu os seus livros, a partilha dessas mesmas ideias e pensamentos.
Já entenderam a ideia? Ainda não?
Então vou expôr o problema de uma outra forma: Não desesperem caros amantes da verdadeira leitura! Nada está perdido! Ainda cá temos, e de boa saúde, a Fátima Lopes e a Margarida Rebelo Pinto com os seus Pequenos Grandes Amores e Diários da Ausência de um sujeito qualquer, a tratar de questões que desenvolvem o cérebro a passo de caracol, que nos torna mais ricos em vocabulário vazio e são óptimos para levar para a praia! Entenderam agora do que falo?

Em quase todos os canais vi pequenas reportagens feitas no velório de José Saramago e, com muita pena minha, não consegui assistir a tamanho degredo, a minha sensibilidade não mo permitia…

Ora, um certo canal nacional muito simpático fez questão de marcar presença no funeral do escritor, destacando uma jornalista, não menos simpática, para dar a honra aos telespectadores de assistirem, no conforto dos seus sofás, ao seu discurso extremamente coerente, correcto e suficientemente suspeito ao ponto de que, qualquer Segurança decente que ali estivesse, a convidaria, de certo, a soprar no balão.
Era a senhora jornalista a trocar o nome do falecido escritor com o nome do primeiro-ministro, e com o nome do grande ditador português e eram as simpáticas pessoas no velório que nunca tinham lido nada de José Saramago, que não tinham nada de José Saramago em casa a ganhar pó nas estantes, e que, quando lhes perguntavam o que estavam ali a fazer, nada mais se ouvia, e peço desculpa pela ironia, que um silêncio de morte.

É isto que me faz bater no peito e gritar bem alto que tenho gosto em ser portuguesa: é o povo que aparece só para ser visto, mal de que já se queixava Eça de Queirós, e é a senhora jornalista na televisão que em menos de meia hora tem a coragem de matar José Sócrates e a proeza de ressuscitar Salazar e matá-lo outra vez no minuto seguir (mas pronto, José Sócrates, Salazar, José Saramago… qualquer pessoa normal se enganava naquelas circunstâncias).

Digo agora, sem qualquer ironia e sarcasmo, que tenho orgulho em ter nascido a tempo de presenciar algumas das etapas da vida literária de José Saramago, de conhecer os seus pensamentos, de puder tirar proveito da sua intelectualidade para, de certa forma, enriquecer a minha, de saber o quanto as suas palavras são marcantes e eternas.
José Saramago fez história… pena que tenha sido num país que não o merece…

Se um Homem não é amado e respeitado em vida, também não o será na morte…

Rita Oliveira
20.06.2010

5 Comentários:

Blogger mikas disse...

Grande critica, sim senhor.

20 de junho de 2010 às 21:27  
Anonymous Anónimo disse...

simplesmente um espectaculo!adorei a forma inteligente de como ves as coisas! parabens!

da tia anabela.beijinhos

20 de junho de 2010 às 21:40  
Anonymous Anónimo disse...

simplesmente um espectaculo!adorei a forma inteligente de como ves as coisas! parabens!

da tia anabela.beijinhos

20 de junho de 2010 às 21:40  
Anonymous Anónimo disse...

Relativamente ao que escreveste acerca de José Saramago, estou de acordo contigo com quase tudo. No que toca ao nosso povo gaiteiro,também, se bem que existe felizmente uma parte que assim não o é. E na minha opinião, se for possível ao José Saramago, genuino como sempre, visualizar o seu funeral, o que penso ser pouco provável, estará com dores na barriga de tanto rir.
Continua a desenvolver a tua capacidade de análise e espirito critico. Gostei.

20 de junho de 2010 às 22:31  
Blogger Unknown disse...

grande Rita uma salva de palmas. cá nos vemos para o ano!

21 de agosto de 2010 às 00:50  

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