domingo, 13 de novembro de 2011

Primavera Portuguesa


E não entendem quando lhes digo,
Que o que me incomoda é o sol da Primavera,
Não, não me irritam as gentes amargas…
Nem a chuva de um olhar,
Ou o vento que por mim passa
Sem passar…
Não…
Incomoda-me o sol… o da Primavera.
Mas não, não me afadiga a ideia postiça,
Ou vulgaridade persistente,
Incomoda-me o sol da Primavera,
E não o valor vendido, a que fujo, fingindo que não me importa,
Mas a verdade é que aos ombros trazem essa identidade
Morta.
E quem quer vir cantar aos surdos e ignorantes,
aos bolsos e virtudes,
a quem as artes são insignificantes?
Que nem a razão do novo dia
Vos põe interrogação.
E o corpo que, arauto, bateu no peito,
está mole e calado
que pela Nação se vergou.
E já não proclama liberdade!
Ai passou, passou, aquela Primavera portuguesa,
E esquecem que o sol, no céu, se acha sempre…
Quem quer vir cantar às almas
cegas e adormecidas,
sem vontade nem encanto,
Que o passado de louvor,
são conquistas esquecidas?
E a Pessoa que jaz enterrada no sonho profundo
Acautelou-vos de que a cegueira vos levaria às esmolas
Das ruas do Mundo.
E por isso a minha alma ferida se afasta desse abismo,
Por onde cai toda a triste nação.
E que me aborreça antes o sol da Primavera,
E que tanto vazio não me impeça de apreciar a coisa bela…
Que eu deixo sempre a dúvida persistir
e caio na fraqueza de ainda questionar:
Quem quer vir levantar hoje de novo o esplendor de Portugal?

Ah, o que me incomoda mesmo, é o sol da Primavera…

Rita Oliveira
10.11.2011