segunda-feira, 24 de maio de 2010

Não há mais nada para dizer!



Descia a rua estreita e empoeirada,
Uma mão vinha cheia de tudo…
A outra cheia de nada…

Vinha com o seu vestido branco, não de cor, mas de pó,
Cruzava o olhar de menina com a gente da rua
Que vendia boatos e mexericos,
De que aquela menina de olhos bonitos,
Trazia a alma nua.

E era a rua estreita, pequena e cheia de gente,
E era o homem sentado na calçada…
Numa mão apertava o cigarro,
Que a poeira da rua abafava;
Atrás das costas, escondia o copo,
Que com a mágoa lhe afogava
O olhar vazio e resignado,
De quem se cansou de lutar contra a fatalidade do fado.

E ela, menina, música naquele cenário agreste,
Vinha pela rua com o seu jeito campestre.
De olhos postos no chão,
Perdida em risos que não eram os seus,
perdida na força de quem a magoa.
Oh menina, eu sei…
Que se tivesses um Deus
Sairias de ti para ser qualquer outra pessoa.

Mas não tens! E sabes…
Que nos teus olhos já não há milagres!
E sabes, apesar de não quereres…
Que ontem fomos crianças,
E hoje acordámos mulheres.

E sabes que o homem na calçada,
Ria para ti se um sorriso lhe davas.
Mas muita gargalhada também trás engano.
Corre o boato de que não és feliz
E que o teu sorriso não é dos imortais.
Mas por muito que se esconda o copo,
Quando cai o pano, somos todos iguais!

Sabes que a tua rua é estreita,
Sabes que a tua rua é pequena...

...sabes que a tua rua não tem fim.

E não há mais nada para dizer!


Rita Oliveira
24/05/2010