sexta-feira, 1 de julho de 2011

Carta de Loucura


Um dia, estas folhas em que escrevo, serão lidas pelos demais.
Partilharão, finalmente, da minha dor, da minha ânsia, da minha angústia... a boca há-de-lhes amargar tanto como a minha, outrora, amargou, ao descobrir que nada tinha de meu.
Sim! Vão romper de espanto perante as descobertas de nunca terem descoberto coisa nenhuma (e, se descobrissem, qual seria a diferença?).
Invejo tal sossego da alma e apatia pela procura... com a qual eu nunca soube viver...
E de que me vale não saber?
Se esta busca pelo que não sei estiver para mim, como o gigante rochedo está para Sísifo...
Sei que vão amarrotar as minhas palavras,
Vão dizer que ocupam demasiado espaço nas gavetas lá da casa porque, claro, qualquer mente que se preze de ser lúcida não deixa que lhe destapem os olhos... não vá deparar-se com a essência da Loucura ao virar a rua...
e depois? Que diriam as pessoas se soubessem? (e, se soubessem, qual seria a diferença?).
O que não sabem, é que elas ficarão no pó, nas marcas das paredes que só o tempo tirará quando achar que já não servem, para vos lembrar que viveis na ignorância e na fraqueza de não ousar pensar.
E é por isto que vou ficando, no meio da multidão que me é familiar,
muda, imóvel, a cismar,
À beira da pena que trago por não ter aquela lucidez...
Até me voltar a recordar que é de Loucura de que são feitos os sonhos... escondidos atrás dos gigantes rochedos onde bate o Mar das almas livres.

Rita Oliveira
1 de Julho de 2011