sábado, 27 de outubro de 2012

O dia em que nasci


No dia em que nasci, o vento não deixou de se arrastar,
esguio, por ruas de ninguém.
Nasci, porque não quis perder a primeira folha de Outono,
A soltar-se da árvore mãe.
A balouçar-se ao vento e aos sonhos.
Que toda a folha, de toda a árvore tem:
A vida num sopro…
E uma só caricia à alma.

Só está vivo, quem não sabe que vive.
E mais vale a loucura de não o saber!
Qual aragem gélida e sufocante,
Roçando nos cabelos selvagens,
Que insistem, teimosamente, em nos beijar os lábios e o olhar
Sacudimo-los violentamente.
E entre o desfazer o nó, com as pontas dos dedos,
e a bonança, para onde corre todo o tempo,
Ninguém diz que por ali passou
a vida.

No dia em que eu nasci…
Ah, e parece que foi ontem que nasci!
A minha alma não cabia em mim.
Do excesso, fiz poesia.
E neste sopro, vão os versos,
vai a alma que em mim não cabia…
E uma dor de quem não sabe viver.
A última folha caída.

Rita Oliveira
27.10.2012