Andando à chuva

Não era na escola, não era no jardim. Não era feliz em mais lado nenhum...
Era de noite e era naquelas conversas a que chamavas “Conversas de antes de dormir”. Conversas em que a aconchegavas com os cobertores, em que lhe falavas de coisas bonitas e em que ela pequenina e ingénua te falava de sonho.
Criança mas ainda assim sabia da tua luta contra ninguém, contra ti.
Sentavas-te na sua cama, espalhando lágrimas invisíveis pela tua face, insensíveis ao contacto com a tua pele. Tu tinhas o poder de fazer brilhar aquele rosto infantil, já quase adormecido. E isso fazia-te brilhar também.
Ao veres os olhinhos da menina fecharem, aguardavas ali, sem te mexeres, sentada na cama, envolvida por toda aquela fragilidade, tentaste encontrar o suspiro que nunca soubeste arrancar de ti, da alma e do teu corpo que se sentiam aprisionados. Deixavas-te vencer!
Levantaste-te, beijaste a menina que dormia e devagarinho apagaste as luzes, fechaste a porta branca com aquela meia-lua pintada de azul, deixando-a então sonhar descansada.
Mas nunca demorava muito! Uma ou duas horas depois, já tu estavas também envolvida no sono...
Lá vinha ela... muito devagarinho, para não fazer barulho, para não acordar ninguém, abria a porta do teu quarto e perguntava baixinho «Estás aí?». Sem esperar resposta subia para a tua cama e sentava-se à tua frente a ver os olhos que a espelhavam, a aguardar o teu sorriso, para por fim poder enroscar-se nos teus lençóis mornos, deixando de ouvir a chuva, os trovões, ouvindo apenas a canção e todo o carinho...
Voltando ao sonho...
Deves lembrar-te disso...
Ainda que não fosse por muito tempo e ambas sabiam que não ia durar...
Abriste a porta que te levava à saída, com olhos postos na menina que queria sair contigo. Agarraste na maçaneta da porta, as mãos estavam suadas e as lágrimas corriam pela cara de quem não sabia viver, mas soube amar.
O vento tocou-te, os cabelos beijaram-te os lábios.
A porta fechou-se atrás de ti.
Passaste a ser tu! E só tu!
Coração perdido!
Quantas não foram as vezes em que ela acabava por adormecer à espera que a fosses aconchegar?
Quantas não foram as noites em que ela ia devagarinho abrir a porta do quarto e perguntar «Estás aí?»?
Quantas não foram as noites em que ficava sentada na tua cama, à espera do teu sorriso, acabando por se enroscar nos teus lençóis frios?
Ouvindo a chuva.
Ouvido os trovões. Até se cansar.
Até não poder chamar mais por ti...
Criança mas ainda assim sabia da tua luta contra ninguém, contra ti.
Sentavas-te na sua cama, espalhando lágrimas invisíveis pela tua face, insensíveis ao contacto com a tua pele. Tu tinhas o poder de fazer brilhar aquele rosto infantil, já quase adormecido. E isso fazia-te brilhar também.
Ao veres os olhinhos da menina fecharem, aguardavas ali, sem te mexeres, sentada na cama, envolvida por toda aquela fragilidade, tentaste encontrar o suspiro que nunca soubeste arrancar de ti, da alma e do teu corpo que se sentiam aprisionados. Deixavas-te vencer!
Levantaste-te, beijaste a menina que dormia e devagarinho apagaste as luzes, fechaste a porta branca com aquela meia-lua pintada de azul, deixando-a então sonhar descansada.
Mas nunca demorava muito! Uma ou duas horas depois, já tu estavas também envolvida no sono...
Lá vinha ela... muito devagarinho, para não fazer barulho, para não acordar ninguém, abria a porta do teu quarto e perguntava baixinho «Estás aí?». Sem esperar resposta subia para a tua cama e sentava-se à tua frente a ver os olhos que a espelhavam, a aguardar o teu sorriso, para por fim poder enroscar-se nos teus lençóis mornos, deixando de ouvir a chuva, os trovões, ouvindo apenas a canção e todo o carinho...
Voltando ao sonho...
Deves lembrar-te disso...
Ainda que não fosse por muito tempo e ambas sabiam que não ia durar...
Abriste a porta que te levava à saída, com olhos postos na menina que queria sair contigo. Agarraste na maçaneta da porta, as mãos estavam suadas e as lágrimas corriam pela cara de quem não sabia viver, mas soube amar.
O vento tocou-te, os cabelos beijaram-te os lábios.
A porta fechou-se atrás de ti.
Passaste a ser tu! E só tu!
Coração perdido!
Quantas não foram as vezes em que ela acabava por adormecer à espera que a fosses aconchegar?
Quantas não foram as noites em que ela ia devagarinho abrir a porta do quarto e perguntar «Estás aí?»?
Quantas não foram as noites em que ficava sentada na tua cama, à espera do teu sorriso, acabando por se enroscar nos teus lençóis frios?
Ouvindo a chuva.
Ouvido os trovões. Até se cansar.
Até não poder chamar mais por ti...
Deves ter contado os dias em que voltaste à porta que tinhas fechado e que não tinhas força para abrir...
Deves ter imaginado e relembrado a porta branca com a meia-lua pintada de azul...
Deves ter tentado ver o que está agora lá dentro...
Deves ter visto pó...
Deves ter tido medo de não encontrar...
Quem já não conheces...
Rita Oliveira
31-05-2008
Deves ter imaginado e relembrado a porta branca com a meia-lua pintada de azul...
Deves ter tentado ver o que está agora lá dentro...
Deves ter visto pó...
Deves ter tido medo de não encontrar...
Quem já não conheces...
Rita Oliveira
31-05-2008